
Em direção ao Pavilhão Carlos Lopes, fashionistas, celebridades e jornalistas chegavam por entre os pingos da chuva e o vento que teimava em não dar tréguas. Começava assim o último dia da Moda Lisboa com o tempo a “torcer o nariz”, mas com a moda a fervilhar de emoção. Começando com Olga Noronha e terminando com Dino Alves, o real e o imaginário; o empoderamento feminino; a inspiração no bordado tradicional da Madeira; a cor; o streetwear e as peças desconstruídas foram os assuntos que estiveram na ordem do dia.
Olga Noronha (na foto de destaque)
É com Olga Noronha que se deu o sinal de partida para a maratona de desfiles do último dia da Moda Lisboa. Com os verdes jardins da Estufa Fria como pano de fundo, a jovem criadora apresentou-nos “Uncanny”, uma coleção que procura ignorar a distinção entre o real e a imaginação. À medida que as modelos desfilavam e paravam para serem fotografadas, não houve um único convidado que não se deixasse envolver no mundo de Olga Noronha. Dos tons dourados às folhas de ouro, passando pelo tecido esvoaçante em cor de menta, todas as peças representavam uma harmonia de fragilidade e fantasia.
Ir ao guarda-roupa da avó nunca foi tão cool. Quem o diz é David Ferreira. O jovem criador já nos habituou à beleza e à silhueta extremamente poderosa da mulher e, desta vez, não fugiu à regra. Ao som de Destiny Child e de Cardi B, David Ferreira apresentou uma coleção dita de se dizer: “Who run the world? Girls!” Quem esteve presente deixou-se levar na onda feminista das peças em PVC, da pele de cordeiro, da Mongólia, do veludo, da seda, da lã, do fitted e o do oversized.
O Pavilhão Carlos Lopes foi na cantiga de Filipe Faísca e embarcou numa viagem rumo à Madeira. Inspirado no tradicional Bordado da ilha, o renomeado criador traz até nós vestidos para festas e cocktails, camisas, casacos, calças e saias. Uma relação de amor entre o artesanato e a moda fez surgir “6 Sentido”, a coleção para a próxima estação outono/inverno 18-19 de Filipe Faísca.
Se há palavra que assenta que nem uma luva na coleção outono/inverno 18-19 de Lidjia Kolovrat é a palavra “cor”. Por entre o verde, o roxo, o amarelo e o rosa, a criadora oriunda da Bósnia apresenta-nos “Shape Shift”, uma coleção que explora formas, texturas, materiais e padrões múltiplos. A paixão de Lidjia pela família esteve presente em sobretudos, lenços e camisas através dos prints com imagens da criadora com os seus avós e pais.
Anos 80 e 90 conjugados em sintonia numa coleção onde o streetwear foi o rei da passarela (a seguir, claro, ao charles cavalier que desfilou com um ar todo pomposo e um outfit de fazer inveja aos seus irmãos patudos). Sob a influência do skate, do surf e do hip hop, Ricardo Andrez apresenta-nos “THE TFK’S – TrustFundKids”, uma coleção pensada nos adolescentes de “bolsos cheios” com um gosto especial pela moda. Para o criador a próxima temporada é liderada pelo padrão tartan, os tons rosa, os polka dots (em vermelho, porque o preto é demasiado mainstream), as sobreposições e os tecidos oversized.
O último desfile da Moda Lisboa ficou a cargo de Dino Alves. Com o passarela a ser desmontada, com o som de berbequins e os sacos do lixo a causarem êxtase nos convidados e jornalistas, o “Enfant-terrible da Moda Portuguesa” aproveita a deixa e “mata dois coelhos numa só cajadada”: apresenta a suas coleção para o outono/inverno 18-19 e dá uma mãozinha à equipa de limpeza. Falando, agora, nas peças de roupa que foram apresentadas. Numa paleta de cores que vão do preto e branco ao amarelo torrado, roxo e prateado, os dias frios de Dino Alves vão pedir peças desconstruídas, com modelagem alterada e desproporção física.
O que é bom acaba depressa. A Moda Lisboa despede-se de mais uma edição, deixando para trás a memória de quatro dias repletos de desfiles, apresentações, reencontros e muita moda à mistura. Voltamos a ver-nos em outubro.
Feature published in Glam Magazine.
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