Uma batida sonora irreconhecível que nos faz bater o pé, com uma
pitada de emoção à mistura, transportando-nos para um mundo que nos é
conhecido: a adolescência. É assim que Lorde nos apresenta “Melodrama”, o seu segundo álbum de estúdio, trazendo consigo uma nova identidade à musica pop.
Em 2013, Lorde tornou-se a revelação do ano, com o seu álbum de estreia “Pure Heroine”.
Com apenas 17 anos, tinha o mundo a seus pés. Passados 4 anos, a
cantora da Nova Zelândia lança um novo trabalho discográfico, com uma
abordagem diferente do seu trabalho anterior. A cantora sai com os
amigos, tem discussões com o namorado, vai às mesmas festas que nós e
tem as mesmas crises existenciais. Ao longo de 11 faixas, a realidade
está mais presente que nunca, pela voz profunda e íntima de Lorde. A
batida dançante de “Green Light” dá início a esta viagem, por entre desgostos amorosos, festas e solidão; passando por “Liability”; terminando com as recordações de uma noite de procura incessante por “Perfect Places”.
Recuando um pouco no tempo, quando Lorde apareceu com “Royals”, não fiquei enternecida, não me chamou a atenção; tomava-a por mais uma Lana Del Rey. Quando os Arcade Fire
vêm a Portugal em 2014, ao Rock In Rio, Lorde era uma das artistas que
actuava nesse dia. Enganara-me redondamente, uma chapada de luva branca,
como nunca tinha levado na vida. Durante a atuação, fui transportada
para um mundo paralelo, onde os sonhos e a realidade cantavam em
uníssono. Apaixonei-me por aquilo que estava a ver. Pure Heroine tornou-se, a partir dessa noite, um dos álbuns da minha vida. Melodrama segue o mesmo caminho.
É difícil o exercício de se encontrar uma música preferida, num álbum
repleto de músicas de excelência. Lorde, ao unir forças com Jack Antonoff, criou melodias que nos tocam a alma e aquecem o coração. “Cause
I remember the rush, when forever was us / Before all of the winds of
regret and mistrust/ Now we sit in your car and our love is a ghost”; haverá algo mais poético que esta citação de “Hard fellings/Loveliness”, a sexta faixa de Melodrama? Tenho o álbum em rotação constante, e prevejo que vá continuar assim durante mais algumas semanas.
Os críticos já se pronunciaram. A revista americana Entertainment Weekly não deixou passar em branco um dos melhores álbuns de 2017. Nolan Feeney deu uma pontuação de “A”, revelando que “as
composições de mudança de forma dão a este álbum uma paleta mais rica e
dinâmica do que as batidas silenciosas e minimalistas de “Pure Heroine””.
E foi nesta diferença, a par da mudança de abordagem das músicas, que
Lorde trabalhou durante 18 meses. Will Hermes, da revista de música Rolling Stone, deu 4 de 5 estrelas a “Melodrama”. “A
escrita e a sonoridade fantasticamente íntima de Lorde, que vão desde
os seus seus “ruídos” de baixo registo não processados até todo o tipo
de máscaras, fazem valer a pena”, revela. O foco da crítica
de Hermes é, com toda a certeza, uma das características mais apreciadas
em Lorde: a diferença na sua voz, que a torna tão única, num mundo pop
em que os artistas são produzidos segundo o critério da igualdade.
Lorde surpreende-nos, com uma mente mais madura, e ao mesmo tempo
frágil; rebentando com todos os estereótipos de “pop star”; fazendo-nos
apaixonar pela adolescente, que se apresentou ao mundo sem vergonha da
sua frenética dança e das suas “borbulhas”, importando-se com aquilo que
realmente a faz feliz: a música.
Musical review published in Comunidade Cultura e Arte.
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